23 de agosto de 2008


"(...) O amor cria momentos em que temos a sensação de que a "máquina do mundo" se explica, em que tudo parece parar num arrepio, como uma lembrança remota. E não falo aqui dos grandes momentos de paixão, dos grandes orgasmos, dos grandes beijos - eles podem ser enganosos. Falo be brevíssimos instantes de felicidade sem motivo, de um mistério que subitamente parece revelado. Há, nesse amor, uma clara geometria entre o sentimento e a paisagem, como na poesia de Francis Ponge, quando o cabelo da amada se liga aos pinheiros da floresta ou quando o seu brilho ruivo se une com o sol entre os ramos das árvores e tudo parece decifrado. Mas não se decifra nunca, como a poesia. O amor é uma tentativa de atingir o impossível, se bem que o "impossível" é indesejado hoje em dia; só queremos o controlado, o lógico. O amor anda transgênico, geneticamente modificado, fast love.(...)"

Arnaldo Jabor
(trecho da crônica: O amor impossível é o amor verdadeiro)